TEXTO: CHEGADA DE ANAKIN AO PLANO ESPIRITUAL DA FORÇA

E aqui está minha modesta colaboração: um texto que escrevi há três anos e que conta a chegada de Anakin Skywalker ao plano espiritual da Força (sob a ótica espíritualista):

Acordou ainda sentindo-se um pouco sonolento. Abriu os olhos devagar e viu-se em um lugar que não conhecia.
- Estou vivo! – exclamou surpreso.
A voz baixa, o corpo fraco, sem forças para se mover.
Tentou erguer sua cabeça do travesseiro, mas sentiu-se tonto e desistiu.
Observou a névoa branca que o envolvia e inspirou profundamente sentindo um aroma suave que lhe trazia paz e tranqüilidade.
Foi quando percebeu que estava sem a máscara.
- Mas como isso é possível? – balbuciou.
Tentava raciocinar, queria entender o que estava acontecendo, mas foi tomado por um sono tão forte que o fez adormecer novamente.
Sono profundo, sem sonhos.
Acordou assustado e ao abrir os olhos teve a impressão de ver Yoda e Obi-Wan a seu lado.
“Estou sonhando”, pensou.
Fechando os olhos, voltou a perder os sentidos.
Novamente acordou. Desta vez sentia-se mais forte.
Estava sozinho em um ambiente claro.
Tudo muito branco, muito quieto, muito iluminado.
Deitado em uma espécie de cama, porém muito mais suave e macio do que qualquer cama que já tivesse experimentado em toda sua vida.
Havia colunas que se perdiam nas nuvens brancas lá em cima.
Havia também largas janelas e passagens sem portas que davam em um lindo jardim cheio de flores coloridas.
Depois de observar tudo em volta, olhou para seu próprio corpo.
Estava nu sob um lençol branco e perfumando. E para sua surpresa estava perfeito! As cicatrizes deixadas pelo fogo sumiram todas, como que por encanto!
Suas pernas e braços estavam inteiros. Ele estava curado!
Sentou-se e passou as mãos pelo corpo começando pelas pernas para certificar-se de que aquilo tudo era real.
Ao tocar seu rosto percebeu também que a pele estava lisa, sem cicatrizes e totalmente rejuvenescida.
Seu cabelo voltara!
Ele sentiu uma alegria imensa e começou a recapitular tudo que acontecera em seus últimos momentos de vida física.
Lembrou-se que estava morrendo sob o olhar de seu filho.
- Mas eu não morri!
Então ouviu uma voz em sua mente:
“A Força!”.
Sentiu uma paz profunda invadir seu ser.

Novamente deitou-se. Novamente dormiu.
Desta vez sonhou.
Sonhou estar voando sobre as nuvens. Sonhou com o rosto de seus dois filhos sorrido para ele. Sonhou com a única mulher que amara em toda sua turbulenta existência: Padmé. Ela lhe sorria, afagava seus cabelos e tocava delicadamente seus lábios com os dela. Ele fechou os olhos depois, e ao abri-los Padmé não estava mais por perto. Cenas de sua vida e rostos de pessoas queridas que se foram apareceram em seguida: sua mãe, Gui-Gon Jin, Yoda. As imagens misturavam-se causando-lhe confusão.
Mas de repente voltou a sentir uma grande sensação de paz.
Percebeu uma mão em sua testa.
Lentamente foi abrindo os olhos, desta vez de verdade. E desta vez não era sonho. Havia mesmo uma mão em sua testa, uma mão que lhe transmitia força e calma: a mão do seu antigo Mestre Obi-Wan Kenobi.

Sim. Obi-Wan estava ali. Era real.
Ainda sem entender nada, fechou novamente os olhos sentindo-se meio envergonhado embora feliz.
Tomou coragem e abriu novamente os olhos. Obi-Wan continuava ali, olhando para ele com um sorriso amigo.
- O que está acontecendo comigo? Que lugar é esse? – disse ele quase num sussurro, sentando-se na cama flutuante em que se encontrava.
Sentando-se em uma poltrona igualmente flutuante e macia que havia ao lado da cama, Obi-Wan respondeu:
- Bem vindo, Anakin! Você está no lado espiritual da Força, nós o ajudamos a chegar aqui.
- Nós?
- Mestre Yoda e eu.
Concluiu que a visão de Yoda e Obi-wan que tivera pouco antes também não era sonho. Lembrou-se de seus últimos momentos de vida no plano físico.
- Luke conseguiu escapar? – perguntou preocupado.
- Conseguiu. Ele está são e salvo e neste momento está realizando uma cerimônia Jedi para você, está cremando seu corpo.
Não conseguindo conter a lágrima que insistia em cair de um de seus olhos azuis, ele pensou com carinho no rosto de seu filho, a última imagem que tivera antes de...
- Então eu morri mesmo? – disse, querendo novamente entender o que se passara.
- Seu corpo morreu. Você não. Você está mais vivo do que nunca, assim como eu, Mestre Yoda, Qui-Gon...
- Eles também estão aqui?
- Sim, todos estão. Enquanto nossos corpos morrem e são desintegrados por nós mesmos através do uso da Força ou por outros pela cremação, nos unimos à Força e passamos a viver aqui.
- Todo mundo vem para este lugar depois que morre?
- Não, só os Jedi.
- Mas... eu senti Padmé e minha mãe. Era um sonho, mas era tão real. Onde elas estão?
- Não foi bem um sonho. Você foi levado até elas de certa maneira. Elas podem te visitar e você a elas. Mas este lugar aqui é para os Jedi.
Neste momento ele sentiu um constrangimento que o fez ter a sensação de estar ruborizando.
- Como eu posso estar aqui? Eu não mereço. Eu traí os Jedi! Eu estava do outro lado...
- Não, Anakin. Você morreu como Jedi. Você era o escolhido e cumpriu a profecia. Você salvou a vida de seu filho abrindo mão da sua própria. Destruiu o Imperador, libertou a galáxia do Império, trouxe equilíbrio para a Força. A galáxia deve a você a paz e a liberdade das quais pode desfrutar agora. Luke fará com que todos saibam do seu feito.
- Mas...
- Você já sofreu punições mais do que suficientes – disse Obi-Wan já sabendo o que ele iria perguntar. – Agora você está liberto do mal. Obteve o perdão da Força. O amor venceu o ódio em seu coração. Você tem uma capacidade tão grande de amar que esse era o maior dos temores do Imperador. Por isso ele mentiu sobre você ter matado Padmé. Ele deixou que você acreditasse nessa mentira durante todos esses anos. Mas agora você sabe a verdade, você pode senti-la.
Meditou por uns instantes procurando confirmar a verdade através da Força, e depois de respirar fundo e vagarosamente disse:
- Ela morreu na hora do parto como em meus sonhos... Ela não queria mais viver...
- Ela se entregou.
Longa pausa. Ele sentiu que tudo estava claro em sua mente. Não pôde impedir que a tristeza o dominasse.

Procurando recobrar o ânimo e enxugando os olhos úmidos, continuou a perguntar.
- Como eu posso estar com esta aparência? Estou sadio, jovem e inteiro!
- Os defeitos de seu corpo foram conseqüências do mal que você fez aos outros. Esse mal se voltou contra você mesmo. Quando isso aconteceu, você era um Sith. Ao se livrar do ódio e cumprir a profecia você voltou a ser um Jedi, e ao morrer do lado do Bem, a Força permitiu que as marcas do mal desaparecessem junto com o seu corpo material. Você voltou a ter a aparência que tinha quando era um Jedi, antes de voltar-se para o mal e antes de ficar marcado por esse mal. Seu corpo sutil está perfeito porque você foi redimido antes de passar para este lado da vida.
- Você disse que a Força me perdoou. Mas... – a voz querendo falhar, as lágrimas ameaçando voltar, mas continuou. – E você? Me perdoou também? E Mestre Yoda, Gui-Gon...
- Quem somos nós diante da Força? Cabe a Ela perdoar alguém. Nós não podemos julgar. Mas se é importante para você, saiba que todos nós te perdoamos.
- Eu te odiei...
- Eu não. Eu apenas perdi as minhas esperanças. Você não imagina a dimensão da surpresa e da felicidade que senti quando você voltou para o Bem.
- Graças ao Luke.
- Graças ao seu amor por Luke.
Nova longa pausa se seguiu. Não eram mais necessárias palavras. Olhos nos olhos e um conseguia entender o que o outro estava sentindo ou pensando.
Abraçaram-se. Demoradamente. Emocionadamente.

Obi-Wan entregou-lhe um traje Jedi que ele vestiu com alegria e emoção. Sentiu uma onda imensa de serenidade e gratidão envolvê-lo por completo. Juntos, os velhos amigos caminharam lado a lado até o pequeno jardim. Havia uma fonte de água cristalina no meio, entre as flores.
- Beba – disse Obi-Wan.
Ambos beberam a água. Era pura, refrescante, energizante.
Um arrepio percorreu seu corpo e ele sentiu-se revigorado, cheio de ânimo. A fonte caía sobre um lago no qual pôde ver o reflexo de seu rosto.
- É inacreditável! – disse, tendo a confirmação de que realmente voltara a ter a aparência jovem e saudável de seus tempos de Jedi.
- Pois é a realidade – respondeu Obi-Wan com um sorriso. – Cada um tem o que merece e no final das contas você fez por merecer!
- O que se faz aqui? – perguntou ainda um pouco envergonhado.
- Guiamos aqueles que são sensíveis à Força. Os influenciamos a fazer o bem, a agir da maneira certa, ajudamos a quem precisa de ajuda e têm merecimento para recebê-la. Aos poucos você aprenderá.
- Poderei algum dia acompanhar meus filhos, de alguma maneira?
Neste momento uma voz muito familiar fez-se ouvir.
- Algum dia? Não algum dia. Hoje. Chegada é a hora!
Ele virou-se e ali estava a figura inconfundível de Mestre Yoda.
A emoção foi muito forte e ele novamente chorou. Não tentou segurar as lágrimas, não conteve o pranto. Todas as emoções das experiências e descobertas dos últimos momentos somaram-se em uma só. Era demais para ele.

Obi-Wan e Yoda deixaram que ele chorasse.
Enquanto isso invocavam a Força.
Quando o choro finalmente cessou e ele se acalmou, sentiu que um peso havia saído de suas costas. Então percebeu que remorso ou sentimento de culpa só iria piorar as coisas. Agora ele estava leve, disposto a perdoar a si mesmo e seguir em paz sua nova vida, em uma nova realidade.
Estava novamente do lado do Bem, da Luz.
Sentiu uma onda de felicidade e uma grande vontade de prosseguir.
Foi quando novamente aquela voz rouca e tão sua conhecida fez-se ouvir novamente, rompendo o silêncio.
- A Liberdade para toda a galáxia você trouxe. Todos comemoram. Participar da festa podemos nós!
- Podemos?
- Devemos – disse Obi-Wan.
- Ver seus filhos você quer, eu sinto. – disse Mestre Yoda.
Com um gesto de cabeça ele confirmou.
- Então próximos vamos ficar. Juntos vamos mentalizar a Lua de Endor. É lá que eles estão. Há festa lá! Felizes estão todos. Poderosa é a Força e ela nos transportará para junto deles.
- Obrigado, muito obrigado! – disse ele olhando para os dois Mestres e unindo-se à Força.
- Agradeça a Força – disse Obi-Wan. – Só ela pode nos dar esse poder.

E assim os três transportaram-se para a Lua de Endor onde entre os pequenos Ewoks, Luke e Leia comemoravam a vitória, a paz e a liberdade da galáxia.
Uma emoção gigantesca tomou conta de todo o seu ser.
Seus filhos e todos os amigos deles estavam ali. Estavam felizes como nunca. Ele sentiu que Luke os vira e que o reconhecera de imediato. Os olhares de pai e filho cruzaram-se novamente.
Ele sentiu uma ponta de orgulho por ter filhos tão especiais. Lamentou não poder ter convivido com eles. Lamentou ter andado nas trevas por tanto tempo. Lamentou não ter chegado a falar com Leia, não depois de saber que ela era sua filha.
Mas não era hora para pensar em arrependimento.
E não havia mais porque lamentar.
Ele morrera por uma boa e justa causa.
De qualquer forma, na verdade ele não morrera, estava mais vivo do que nunca e estaria ao lado de seus filhos sempre que fosse possível.
Em breve poderia conversar com eles e falar-lhes de como se sentia em relação a tudo o que vivenciara.
Pensando assim, deixou-se contagiar pelo clima de alegria e celebração.
Apareceram mais lágrimas em seus olhos, mas só de felicidade!
Ele as deixou rolarem soltas por seu rosto enquanto a música tocava e os fogos explodiam no céu fazendo-o brilhar.
Aquele era o anúncio dos novos e bons tempos que se iniciavam!